Dando
continuidade ao estudo de Jesus e a sua Igreja, nós vimos que Jesus não se
limita a ser um curandeiro, um filósofo, um pedagogo.
Hoje em
dia se tem uma tendência cada vez maior de tentar rotular a pessoa de Jesus, e
isso se dá pela dificuldade de se aceitar o Jesus Cristo. Assim, rotulando
Jesus, se pode ficar com apenas uma parte dele, abrindo mão de todas as outras.
Jesus é
Deus. Jesus é o Verbo eterno do Pai que se fez carne e abitou entre nós. De
Jesus nós recebemos muito mais do que estes rótulos ou quaisquer outros que
alguém possa imaginar.
“Todos nós recebemos da sua plenitude graça
sobre graça. Pois a lei foi dada por Moisés, a graça e a verdade vieram por
Jesus Cristo” (João 1, 16-17).
Por
querer nos congregar na sua realidade de graça e de verdade, Jesus quer sempre
reunir o seu povo, e este é um povo novo.
É
preciso contextualizar a mensagem de Jesus conforme a fé e a esperança do povo
eleito, a qual vemos no antigo testamento: a Salvação era para os Judeus.
- Os Elementos da Futura
Igreja
Dois
elementos são importantes para a compreensão da futura Igreja:
1) O tornarem-se um, unidos a Cristo;
Sobre
isto nós falamos na última postagem quando percebemos que Jesus quer congregar
todos à sua volta, para congregar as ovelhas perdidas da casa de Israel. Este
novo povo tem em Jesus seu ponto de reunião.
Isto
quer dizer que só em Jesus este povo poderá ser povo de Deus. Na verdade só em
Jesus eles serão um povo.
Com este
intuito Jesus utiliza de várias imagens para designar o novo povo de Deus:
rebanho (João 10, 16); convidados do banquete de núpcias (Marcos 2, 19); casa
de Deus (Mateus 10, 25);
Mas a
que mais se destaca é a de família de Deus (Mateus 10, 25; 13, 27.52; 20, 1-15;
21, 33-44; Lucas 14, 15-24; etc.)
Deus é o
Pai da família.
2) A oração em comum;
Em
paralelo a figura da família de Deus, Jesus ensina os discípulos uma oração em
comum: o Pai Nosso.
Assim
como João Batista ao ensinar seus discípulos a orar (Lucas 11, 1), Jesus,
quando ô faz com os seus discípulos, lhes dá uma das características das
comunidades: a oração em comum.
Tendo o
mesmo núcleo (Jesus) e a mesma oração (Pai Nosso) os discípulos tinham
consciência de estar fazendo parte de uma comunidade.
- A Comunidade dos Doze
Aqui
vemos a figura dos Doze aparecer.
As doze tribos
de Israel deveriam ser restabelecidas. Este restabelecimento vai ocorrer na
figura dos apóstolos.
Jesus já
tinha discípulos logo no início do seu ministério (Marcos 3, 7-12), mas o que
reforça a ideia de unidade é o fato de Ele ter escolhido doze para andar junto
dele:
“Depois, subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram a ele. Designou doze dentre eles para ficar em sua
companhia” (13-14).
Doze é o
número dos filhos de Jacó e das tribos de Israel (Genesis 49 [,28]). Este novo
doze indica um novo povo que será constituído de autoridade conforme Mateus 19,
28 nos diz:
“Em
verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem
estiver sentado no trono da glória, vós,
que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze
tribos de Israel”.
- Os Doze estão sempre a
volta de Jesus
A missão
dos apóstolos, inicialmente era “apenas” estar com Jesus. Na verdade este
título de Apóstolo só é recebido após a ressurreição de Jesus. Antes disto eles
eram chamados simplesmente de “os Doze”.
Marcos
nos descreve sua vocação dizendo “e Jesus constituiu Doze” (3, 14). A missão
deles é simplesmente ser Doze, para mais tarde estarem com Jesus e para serem
enviados.
Esse
chamado especial aos Doze para uma comunhão mais intima tinha o claro propósito
de prepará-los para dar seguimento a missão. Marcos nos diz:
“Era por meio de numerosas parábolas desse gênero que ele [Jesus] lhes anunciava [as multidões] a palavra, conforme eram capazes de
compreender. E não lhes falava [as multidões], a não ser em parábolas; a sós,
porém, explicava tudo a seus discípulos” (4, 33-34).
Percebe-se
então que há uma clara distinção entre as multidões e os doze. Não se nega que
Jesus veio para todos. Isto nós dissemos e reafirmamos. Contudo Jesus prepara
os doze que andam mais junto dele.
- Quem representará Jesus
são os Doze
Todo
ensinamento tinha o propósito de prepará-los para representar Jesus. O
discurso, após a última ceia, em João nos dá a exata noção de quem os Doze
serão dali para frente.
É
preciso entender de forma clara o contexto dos discursos após a Última Ceia
conforme o evangelho segundo São João.
Seguindo
o Evangelho segundo São João, vemos que Jesus começa a encerrar sua vida
pública após o discurso do pão da vida no capítulo 6. Analisaremos de forma
sintetizada este capítulo de ruptura no Evangelho.
Perto da páscoa dos judeus, Jesus faz o
sinal da multiplicação dos pães (vv.1-15). Tendo em vista a intenção da
multidão, Jesus se recolhe no monte se encontrando com os discípulos que já
estão em alto mar/lago logo após, numa cena em que vemos a demonstração de
sua presença e sua divindade poderosa (v.20), contudo nós temos, após estes
acontecimentos, pequenas crises com a multidão que desde o início já
demonstrava querer apenas os milagres (v.2). Jesus os exorta, podemos dizer
até com certa irritação, pois estes apenas estão atrás de se fartar de pão
(v.22-27). Eles não estão atrás do sinal, mas sim do milagre que sacia a
fome.
Em que pese lermos na Bíblia Ave Maria a frase “buscais-me, não
porque vistes os milagres” (v.26), o palavra mais correta é sinais
conforme vemos na tradução da CNBB e na Bíblia de Jerusalém. De fato Jesus
esta falando do Sinal de que é ele quem dará o Pão, conforme a sequencia do
capítulo, e não do simples milagre da multiplicação.
A partir daí temos o grande discurso do
pão da vida (vv.28-59) onde vemos a seguinte divisão: Jesus afirma primeiro
dar o pão = palavra ou ensinamento ou revelação (predominante nos versículos
35-50); Jesus afirma ser o pão = corpo (predominante nos versículos 51-58).
Dentro deste discurso vemos a murmuração dos judeus e a crise da multidão.
Aqui percebemos a crise que norteará o
restante do Evangelho: “Desde então,
muitos dos seus discípulos se retiraram e já não andavam com ele”. Dos
vv.60-66 nós vemos que a multidão abandonou Jesus, deixando de andar com o
mestre. Contudo os vv.66-71 vemos que os doze ficariam. Mesmo com a traição
de Judas (v.70-71) já há aqui o núcleo definido dos doze, que a partir de
então, seguiriam Jesus no Evangelho de João.
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Então
quando Jesus está fazendo os discursos e as orações após o lava pés (capítulo
13) Jesus ô está fazendo exclusivamente aos discípulos, e não a uma multidão. A
multidão ficou para trás no capítulo 6. Aqui só sobraram os 11 (pois Judas os
abandonou após a ceia (13, 27-30).
Temos
então Jesus discursando aos discípulos do capitulo 13 – 17 (capítulo 13 ao capítulo
17). Lembremo-nos sempre que nestes exemplos Jesus está falando aos discípulos:
“Ainda um pouco de tempo e o mundo já não me verá. Vós, porém, me
tornareis a ver, porque eu vivo e vós vivereis. Naquele dia conhecereis que
estou em meu Pai, e vós em mim e eu em vós” (14, 20-21).
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor.
Mas chamei-vos amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de meu Pai. Não
fostes vós que me escolhestes, mas eu vos escolhi e vos constituí para que
vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a
fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vos conceda” (15,
15-16).
“Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito
da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim. Também vós dareis
testemunho, porque estais comigo desde o princípio” (15, 26-27).
“Por eles é que eu rogo. Não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me
deste, porque são teus. Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles [nos discípulos] sou glorificado” (17, 9-10).
Nossa
comunhão com Cristo se dá por aderência a esta comunhão dos Apóstolos que são
suas testemunhas, e cuja pregação levará a crença de muitos (17, 11.19-20).
Todas estas promessas foram feitas para os Apóstolos. E se queremos participar
desta glória de Cristo devemos estar em comunhão com os apóstolos.
“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto
por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis
tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os
ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim
nada podeis fazer” (João 15, 4-5).
Não há
como dizer outra coisa sem tirar do seu contexto original. A visão da Videira e
dos ramos está em conformidade com a unidade pedida por Jesus, por intermédio
da pregação dos apóstolos:
“Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti,
para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste.
Dei-lhes [aos discípulos conforme os vv.18-20] a glória que me deste, para que [os discípulos] sejam um, como nós somos um: eu neles e tu
em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste
e os amaste [os discípulos], como
amaste a mim. Pai, quero que, onde eu estou, estejam comigo aqueles que me
deste [os discípulos], para que vejam
[o mundo] a minha glória que me
concedeste, porque me amaste antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não
te conheceu, mas eu te conheci, e estes [os discípulos] sabem que tu me enviaste. Manifestei-lhes [aos
discípulos] o teu nome, e ainda hei de
lho manifestar, para que o amor com que me amaste esteja neles, e eu neles”
(17, 21-26).
É assim
que Jesus restitui as doze tribos de Israel. O número dos Doze, que evoca as
doze tribos de Israel, já revela em si o significado da ação
profético-simbólica implícita na iniciativa de fundar novamente o Povo Santo.
Sendo
Jesus o núcleo da comunidade e estando os Doze em volta deste núcleo, veremos o
que está em volta dos Doze Apóstolos: Os Discípulos, e fecharemos a ideia dos
doze e da transição do Antigo para o Novo Testamento.
Um
abraço a todos.
Carlos
Francisco
Comunidade
Católica Filhos da Redenção
“E vós tendes permanecido comigo nas
minhas provações; eu, pois, disponho do Reino a vosso favor, assim como meu Pai
o dispôs a meu favor, para que comais e bebais à minha mesa no meu Reino e vos
senteis em tronos, para julgar as doze tribos de Israel”.
(Lucas 22, 28-30)