A transição do Antigo para o Novo
Testamento
“Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei penitência e
crede no Evangelho” (Marcos 1, 15).
A História da Salvação é todo
aquele tempo que vai da queda do homem com o pecado original (Genesis 3, 1-7)
até as portas da chegada do Messias. Não atoa Jesus encerra em si próprio toda
a vontade do Pai, a qual sempre foi nos salvar.
É isso que lemos na carta de São
Paulo aos Efésios:
“Nesse Filho
[Jesus Cristo], pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados,
segundo as riquezas da sua graça que derramou profusamente sobre nós, em
torrentes de sabedoria e de prudência. Ele [Deus] nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, que em sua
benevolência formara desde sempre, para realizá-lo na plenitude dos tempos
- desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que
estão na terra. (Efésios 1, 7-10)
Então em Jesus é concretizada a
vontade do Pai.
Quando Jesus diz que completou-se o tempo, ele está dizendo
que o tempo do anuncio feito pelos profetas, dos quais o último foi João
Batista, acabou. Se “muitas vezes e de
diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas” (Hebreus
1, 1) estava na hora de Deus falar por si só, na pessoa do Emanuel – Deus
conosco – conforme Mateus 1, 23.
Bem, terminou o tempo de Moisés e
dos profetas. O que quer dizer o Reino de
Deus está próximo? Qual o significado desta expressão Reino de Deus para os
judeus que ouviam Jesus?
Para Israel, o povo eleito
(Romanos 11, 26-28), Javé é o Senhor da história. Javé inicia a História da Salvação
tendo convocado Abrão, depois libertando o povo do Egito e em todos os momentos
posteriores.
Logo o Reino
de Deus é esta ação de Deus, que começa dentro da história. Esse Reino de Deus não significa na boca de Jesus, uma
coisa ou um lugar, mas o agir de Deus no presente. Por isso podemos traduzir
diretamente a expressão de Mc 1, 15: “O Reino de Deus está próximo”, por “Deus
está próximo”.
Vemos isto em Lucas 11, 14-23, quando Jesus expulsa um
demônio mudo e alguns diziam que era por Beelzebu que ele fazia tais coisas.
Nisto Jesus, os repreendendo, diz:
“Pois
dizeis que expulso os demônios por Beelzebu. Ora, se é por Beelzebu que expulso
os demônios, por quem o expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os
vossos juízes! Mas se expulso os demônios pelo
dedo de Deus, certamente é chegado a
vós o Reino de Deus.
Dedo de Deus significa ação de Deus, como vemos em Êxodo 8,
quando Moisés mostra o terceiro sinal (os mosquitos) e os magos, sem conseguir
confrontá-lo dizem “Isto é o dedo de [um]
Deus”!
Jesus é o Messias inesperado, mas que cumpre as promessa
contidas em Isaías como vemos em Isaías 26, 19; 29, 18s; 35, 5s; 61, 1. Vejamos
as duas últimas:
“Dizei
àqueles que têm o coração perturbado: Tomai ânimo, não temais! Eis o vosso
Deus! Ele vem executar a vingança. Eis que chega a retribuição de Deus: ele
mesmo vem salvar-vos. Então se abrirão os olhos do cego. E se desimpedirão os
ouvidos dos surdos; então o coxo saltará como um cervo, e a língua do mudo dará
gritos alegres. Porque águas jorrarão no deserto e torrentes, na estepe. Percebam
então que o Reino de Deus chegou até nós na pessoa de Jesus. (...) O espírito
do Senhor repousa sobre mim, porque o Senhor consagrou-me pela unção; enviou-me
a levar a boa nova aos humildes, curar os corações doloridos, anunciar aos
cativos a redenção, e aos prisioneiros a liberdade;
Esta foi a resposta de Jesus aos discípulos de João Batista
em Mateus 11, 2-5.
Logo o Reino de Deus começou na pessoa de Jesus.
Contudo, em que pese todos estes milagres devemos ter uma
certeza: as curas praticadas por Jesus não são o Reino de Deus; As curas
praticadas por Jesus são apenas o Sinal do Reino de Deus.
Isso quer dizer que Jesus não veio para praticar curas, como
um curandeiro, e aqui podemos ver dois exemplos claros:
·
A cura do paralítico em Marcos 2, 1-12, onde
Jesus primeiro perdoa os pecados, isto é vai naquilo que é mais importante, e
só efetua a cura física para comprovar sua autoridade;
·
A ressurreição de Lázaro em João 11, 1-45, onde
Jesus poderia ter curado ou mesmo ressuscitado Lázaro mesmo de longe, como fez
com o servo do centurião (Lucas 7, 1-10) mas ele espera chegar até Betânia, até
o sepulcro, e ali ele ora ao Pai não para ser atendido, mas para que os que o
ouviam vissem e acreditassem que o Pai lhe enviou.
Jesus também não veio apenas para
pregar como um filósofo, pois ele exigia adesão e que suas palavras fossem
postas em prática como quando fala que prudente é quem houve suas palavras e as
põe em prática, e insensato quem não as põe em prática, conforme Mateus 7,
24-27.
Jesus é o caminho que leva ao Pai (Jo 14, 6), e tudo o
que atrapalha este caminho deve ser jogado fora:
“Se
teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o e lança-o longe de ti,
porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a que o teu corpo todo
seja lançado na geena. E se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a e
lança-a longe de ti, porque te é preferível perder-se um só dos teus membros, a
que o teu corpo inteiro seja atirado na geena” (Mt 5, 29-30).
Nisto percebemos qual a principal
missão de Jesus: congregar todos a Sua volta.
Jesus, plenamente, nunca se entende como um indivíduo
isolado. Ele veio, de fato, para congregar os que estavam dispersos (cf. João
11, 51-52; Mateus 12, 30), por isto toda sua obra consiste em reunir o novo povo. E reunir nele próprio, como
nos declara em João 15, 5:
“Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em
mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”.
Existe uma união vital entre os ramos e a videira. Sem
a videira os ramos morrem, e ao mesmo tempo os ramos fazem parte da videira.
Nós não somos acrescentados/enxertados a Jesus, mas nascemos/brotamos Dele.
Tudo o que somos brota de Cristo Jesus como diz Paulo
aos Corintios:
“Tal
é a convicção que temos em Deus por Cristo. Não que sejamos capazes por nós
mesmos de ter algum pensamento, como de nós mesmos. Nossa capacidade vem de
Deus. Ele é que nos fez aptos para ser
ministros da Nova Aliança, não a da letra, e sim a do Espírito. Porque a
letra mata, mas o Espírito vivifica” (II Coríntios 3, 4-6).
Jesus é o bom pastor narrado em João:
“Eu sou o bom pastor. O bom
pastor expõe a sua vida pelas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são
deste aprisco. Preciso conduzi-las também, e ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só pastor”.
(João 10, 11.16)
Este bom pastor também é
prometido no Antigo testamento em Ezequiel 34, 1-24, e em especial o versículo
23 diz “Para pastoreá-las suscitarei um só pastor, meu servo Davi. Será ele
quem as conduzirá à pastagem e lhes servirá de pastor”.
Jesus faz sempre um apelo a
conversão pessoal, contudo ele tem sempre por objetivo a constituição do Povo
de Deus que ele veio reunir e salvar.
No próximo momento veremos Jesus reunindo
este Povo de Deus. Veremos como ele faz isso, e começaremos a ver onde a Igreja se
encaixa nesta realidade do Povo de Deus. Veremos a realidade dos DOZE.
Um abraço a todos.
Carlos Francisco
Comunidade Católica Filhos da
Redenção
Sou eu que apascentarei minhas ovelhas, sou
eu que as farei repousar - oráculo do Senhor Javé. (Ezequiel 34, 15)
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