“Este Símbolo [o Credo] é o selo espiritual, a meditação do nosso coração e o guardião sempre presente; ele é, seguramente, o tesouro da nossa alma”.
(Santo Ambrósio (340´397), bispo de Milão e doutor da Igreja)
(Santo Ambrósio (340´397), bispo de Milão e doutor da Igreja)
No dia 11 de janeiro a liturgia nos apresentou o batismo de Jesus (Isaías 42, 1-4.6-7; Salmo 28[29]; Atos 10, 34-38; Lucas 3, 15-16.21-22). Ao apresentar este batismo a liturgia nos faz refletir nosso próprio batismo na profissão de fé, onde renovamos os compromissos batismais.
Quando Deus revela-se ao homem, lhe dá a oportunidade de acolhê-Lo e tributar-Lhe toda a sua fé. A profissão de fé de todos os cristãos é feita na primeira pessoa do singular: “Creio”. Porque, no seio da comunidade, cada pessoa tem sua própria história com Deus. Ninguém pode dizer por outro: Creio.
Interessante que o compromisso batismal é baseado em renuncias (as três primeiras partes) e no credo.
Mas, inicialmente, o que é o credo?
Credo é a síntese da fé cristã. Esta síntese chama-se “profissão de fé” pois nela se condensa tudo o que os cristãos professam. Tanto que o catecismo da Igreja católica no seu número 185 assevera que “Quem diz “Creio” afirma: “dou a minha adesão àquilo em que nós cremos””.
O nome “credo” vem da primeira palavra com a qual, normalmente começam, qual seja “creio”. Ele tem também como denominação “símbolo da fé”.
Símbolo aqui não no sentido de uma figura ou imagem que representa algo abstrato. Mas do grego “symbolon” que significa a metade de um objeto quebrado, a ser apresentado como sinal de reconhecimento .
Li no livro PORTÕES DE FOGO que os espartanos usavam algo bem parecido quando iam para a guerra. Traçavam seus nomes ou sinais em um bracelete improvisado, feito de galhos, que chamavam de “etiquetas”, e identificaria os corpos, caso muito mutilados. Cada símbolo partido significava um guerreiro. Assim saberiam quem voltou e quem morreu. Uma metade não era nada, e significava, na melhor das hipóteses um desaparecido, mas geralmente era sinal de morte.
O Credo também é partido, quebrado:
Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, criador do céu e da terra.
Creio em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, que nasceu da Virgem Maria, padeceu e foi sepultado, ressuscitou dos mortos e subiu ao céu.
Creio no Espírito Santo, Senhor e fonte de vida, que procede do Pai e do Filho, e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado.
Dividido em três partes, o símbolo só tem lugar quando devolvido ao seu estado original. Não basta crer só no Pai, nem só no Filho ou no Espírito Santo. Também não adianta crer mais em um que nos outros.
Também estamos partidos se nossa crença não está pautada aqui na profissão de fé cristã, o Símbolo dos Apóstolos.
Interessante contradição. Disse [e é verdade] que a profissão de fé é feita na primeira pessoa do singular. Mas também deixei claro que eu não creio em qualquer coisa, mas naquilo que a Igreja crê. Note que também estou partido e só sou cristão quando unido a comunidade.
Eu creio naquilo que a comunidade crê, naquilo que os apóstolos passaram, naquilo que Cristo ensinou.
Daqui se absorve a última parte do credo na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição dos mortos, na vida eterna.
E você? Está em consonância a crença da Igreja ou você se acha católico? Em que você crê?
Não se esqueça que o símbolo partido pode significa a morte.
Amém?
Muito legal seu texto!!
ResponderExcluirÉ a primeira vez que ouço falar neste significado para símbolo ("a metade de um objeto quebrado, a ser apresentado como sinal de reconhecimento").
O que eu já havia ouvido falar é no sentido de algo (ou alguém) que une, principalmente por causa do prefixo "sim" (simbiose = duas espécies que se relacionam em união com benefício mútuo // síntese = união de duas ou mais teses), que se opõe justamente ao prefixo "dia" (diálise = separação, como na hemodiálise) também usado para diabo (diabolos).
Na realidade, o sentido que você mostrou e este que eu conhecia se unem e, em SÍNtese, tem o mesmo efeito, já que também o "Símbolo da nossa fé" é aquilo justamente que nos une como Igreja.
Quando alguém é batizado, assim é feito de acordo com este símbolo da fé, seja já plenamente consciente, seja na fé da comunidade dos fiéis (quando criança). Aqui, ele se insere no corpo místico de Cristo, na Igreja, na unidade, no símbolo da nossa fé!!
Pra finalizar, as 3 primeiras renúncias na renovação das promessas do batismo (que precedem o símbolo em si) são justamente a Satanás (diabo, aquele que divide), suas seduções e obras.
Primeiro renunciamos a toda e qualquer divisão entre nós, depois proclamamos o que nos une em comunidade.
(Ops, acho que escrevi demais... rsrsrs) fui!!
Gostei muito do texto. Por ser um protestante só aprendi o significado e a importância do belo Credo Apostólico tardiamente.
ResponderExcluirÉ com certeza uma declaração excelente de um dos momentos de defesa da fé em que a Igreja contribuiu com uma afirmação que deveria ser estudada continuamente.
No entanto, não seria eu se não fizesse alguma observação.
Não concordo com a frase "Também estamos partidos se nossa crença não está pautada aqui na profissão de fé cristã, o Símbolo dos Apóstolos.".
Estamos partidos? Partidos por que? O credo é obra humana e por ele se declara que alguém está partido se não estiver em concordância? Alguém diz que por ele estamos em comunidade ou não. Assim como alguém diz que por outro credo estamos em comunidade ou não.
"Alguém". Sempre alguém a dizer e este alguém não me interessa. Mas sou protestante e talvez este seja meu problema...não sei trabalhar em grupo!
Abraço,
Quanta honra receber a visita de um teólogo no meu humilde blog. Harlyson Lopes Vieira, grande amigo o qual a teologia aproximou mais que a própria religião. Curioso.
ResponderExcluirBem, indo aos seus comentários:
"Não concordo com a frase "Também estamos partidos se nossa crença não está pautada aqui na profissão de fé cristã, o Símbolo dos Apóstolos. Estamos partidos? Partidos por que?"
Bem, no texto eu disse “E você? Está em consonância a crença da Igreja ou você se acha católico? Em que você crê?”. Seu questionamento não é contra a Igreja Católica mas contra uma religião universal separatista. Contudo, é fato que em relação ao catolicismo, não posso me dizer católico sem crer no que a Igreja crê. Quanto a isso Santo Atanásio (295´373), bispo e doutor da Igreja, de Alexandria disse:
´A fé católica é esta: que veneremos o único Deus na Trindade, e a Trindade na unidade, não confundindo as pessoas, nem separando a substância: pois uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo; mas uma só é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, igual a glória, co´eterna a majestade.´
Já Santo Ireneu de Lião (140´202) disse “A Igreja, espalhada hoje pelo mundo inteiro, recebeu dos apóstolos e dos seus discípulos a fé num só Deus, Pai e onipotente(...) e num só Cristo, Filho de Deus, (...); e no Espírito Santo(...),a sua dupla vinda [de Cristo], o seu nascimento da Virgem, a sua paixão e ressurreição dentre os mortos(...). Esta é a doutrina que a Igreja recebeu; e esta é a fé, que mesmo dispersa no mundo inteiro, a Igreja guarda com zelo e cuidado, como se tivesse a sua sede numa única casa. E todos são unânimes em crer nela, como se ela tivesse uma só alma e um só coração. Esta fé ela anuncia, ensina, transmite como se falasse uma só língua (...)”.
Ou comungo disto ou não comungo. Isto é um fato. como eu disse no texto, não creio só, mas com toda a comunidade. Não estou só, nem perdido, nem em dúvida pois nada disto é novo, mas vem antes (muito antes) de mim.
Finalizando, você disse:
ResponderExcluir“O credo é obra humana e por ele se declara que alguém está partido se não estiver em concordância? Alguém diz que por ele estamos em comunidade ou não. Assim como alguém diz que por outro credo estamos em comunidade ou não”.
Primeiramente, apesar de ser obra humana, o credo não cria as verdades que proclama. Não digo isto para você que aprendeu sobre o credo e seu significado histórico. Falo isto para todos que no afã de protestar contra a Igreja deixam de conhecer o Credo e suas verdades.
“"Alguém". Sempre alguém a dizer e este alguém não me interessa”.
Como não lhe interessa se esse alguém é você? É isso que eu afirmo no texto. Você é católico por se dizer católico ou é católico por crer na fé católica?
Quem lhe atribui ser flamenguista, vascaíno, botafoguense ou tricolor? Quem lhe atribui ser batista ou pentencostal? Judeu ou cristão?
Essa é a questão de ter uma mesma fé. Não posso responder pela sua igreja, mas observo que de uma forma geral as igrejas protestantes não conseguem professar uma mesma crença, e isso, algumas vezes, dentro das mesmas denominações. Num universo assim, de fato, não posso exigir unidade... e, particularmente, não acho isso bom.
Abraço
A Paz de Cristo.
"O credo não cria as verdades que proclama".
ResponderExcluirConcordo.
Ele apenas apresenta a mensagem que "alguém" ou "alguns" proclamou/aram como verdade.
A questão permanece.
E as igrejas protestantes não professam uma mesma fé. Não brincamos em grupo. Graças a um católico convicto! Viva a Lutero!
Nisso nós concordamos .... o credo apresenta a mensagem que alguém ou alguns apresentaram: Cristo, os apóstolos...
ResponderExcluirMas, de uma forma geral, quem adere ao proclamado é você. Ninguém lhe obriga.
Quanto ao seu "brincar em grupo" externamente só você pode definir se isso é bom ou não.
Lutero era um católico convicto? será? ou será que era São Francisco de assis, Santo Antônio de Pádua, os membros do concílio de Trento...???
Nem católicos nem protestantes podem ser definidos de acordo com os atos de indivíduos, ou corremos o risco de fazermos um julgamento que fatalmente será errado.
Obviamente esta é só a minha opinião.
A Paz de Cristo.