Esta foi a primeira dúvida que surgiu na nossa caixinha de dúvidas. Não irei transcrever minha resposta, mas sim encorpá-la. Provavelmente eu faça isso com as outras questões que já surgiram e que ainda surgirão.
Primeiramente vale esclarecer onde Cristo esteve...
"Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em seu poder"
(At 2,24).
Da morte, aqui, é traduzida como Hades[1]. Isto se dá pelo paralelo feito vos versículos 27 e 31. De fato o Hades [no grego] é a região dos mortos. Seu correspondente [no hebraico] é o Xeol [sheol].
Cristo desce até a morada dos mortos. Logo Cristo não desce até o inferno[2], mas sim aos Infernos. Paulo nos diz na carta aos efésios[3] “Que significa “subiu”, senão que ele [Cristo] também desceu às profundezas da Terra? O que desceu é também o que subiu acima de todos os céus,(...)” (Ef 4, 9-10).
Esta morada dos mortos é o Seio de Abraão.
Novamente aviso que não estamos falando de lugares físicos, mas é impossível não fazermos paralelos com o mundo que vivemos.
Primeiramente, o termo “Seio de Abraão” designa proximidade com os patriarcas como vemos nestes 2 exemplos:
“Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos.(...)Toda aquela geração se foi também unir a seus pais, e sucedeu-lhe outra que não conhecia o Senhor, nem o que ele tinha feito em favor de Israel.”
(Juízes 2, 8.10)
Aquela geração se foi unir a seus pais [os patriarcas] juntamente com Josué que já havia morrido.
“Quando eu [Jacó] me tiver deitado com meus pais[morrido], levar-me-ás para fora do Egito e me enterrarás junto deles em seu túmulo.” José respondeu: “Farei como dizes.”(...)”
(Genesis 15, 15)
Novamente vemos este paralelo pois Jacó equipara morrer a deitar com os pais [patriarcas].
Esta imagem do estar com os Pais, ou no Seio de Abraão indica a proximidade de Abraão com o Messias mostrado por Mateus:
“Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacó(...)”.
(Mateus 8, 11ss)
Notem que este lugar não é o paraíso para o qual aponta Jesus no diálogo com o Ladrão na cruz (Lc 23, 43). Tanto o homem rico quanto o pobre Lázaro estariam em um mesmo “lugar”, porém separados por um grande abismo (Lc 16, 26), que simboliza, para eleitos e condenados, a impossibilidade de modificar o próprio destino.
Quem Cristo encontra lá?
De fato, como mostrei, na mansão dos mortos estão todos os que morreram, sejam justos, sejam maus (Salmo 6, 6 c/c 89[88], 49). Todos, que morreram na condição do pecado original [Resquício de adão], estão lá, privados da visão de Deus.
Não há possibilidade de comunhão com Deus para a geração de Adão. Por isso, mesmo nenhum dos santos que haviam morrido (Ex. Moisés, Abraão, Noé, David etc.) podiam ter entrado no céu, porque o pecado de Adão ainda não fora remido. Os justos esperavam pela redenção num lugar onde não sofriam nem gozavam ainda da visão de Deus.
O que Cristo faz lá?
Lá ele liberta estes justos da privação da presença de Deus e prega aos incrédulos.
“O Cristo morto, em sua alma unida à sua pessoa divina, desceu à Morada dos Mortos. Abriu as portas do Céu aos justos que o haviam precedido”[4].
De fato “foi o Evangelho pregado também aos mortos” (I Pd 4, 6), e, entre os mortos, também aos injustos (I Pd 3, 18-19).
Logo, Cristo vai à mansão dos mortos para que, literalmente, “os mortos ouçam a voz do Filho de Deus; e que ouvindo vivam” (Jo 5, 25). Apesar de ser esta passagem colocada em um contexto não de mortos físicos, mas de mortos espirituais, podemos traçar um paralelo com Jo 11, 25-26.43-44:
“Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? (...)exclamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! E o morto saiu(...).”
O catecismo no seu número 635 nos remeta a Liturgia das horas do Grande Sábado, o Sábado Santo, véspera da Páscoa. Ele diz:
Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que dormiam desde séculos... Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. "Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida dos mortos.[5]"
Quando isto ocorre (em qual dos 3 dias)?
Temos que perceber que fora da nossa vida corporal não há tempo cronológico.
Logo Cristo morre estendendo sua obra redentora aos outrora falecidos.
Mateus relata no Evangelho que, logo após a morte de Jesus “Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram” (cf. Mt 27, 50.52).
Cristo, então, resgata os mortos e, abrindo as portas do céu, nos entroniza no Paraíso.
“Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”[6].
Nenhum comentário:
Postar um comentário