quinta-feira, 30 de setembro de 2010

COMO O DEUS DE JESUS PODE TER ROGADO AS PRAGAS E TER PEDIDO PARA UM HOMEM MATAR SEU FILHO?


Esta foi a segunda dúvida no curso de catequese.

A resposta passa, e muito, na definição do termo “a Bíblia é Palavra de Deus Inspirada por Deus”.
Muitos tem um pensamento da Bíblia como palavra de Deus em um sentido literal: A Bíblia teria sido “literalmente” escrita por Deus, palavra por palavra. Podemos quase imaginar o céu se abrindo e a bíblia caindo com zíper e tudo.
Não há nada mais errado.  E esse erro vai, forçosamente, levar a outros, tais como:
- Crer que os autores não são autores, mas espécies de redatores que só escreveram o que Deus “ditou”;
- Crer que Deus escolhe cada termo, cada palavra nos textos, cada pontuação, etc;
- Crer que Deus escolheu a língua na qual o texto foi originalmente escrito;
- Crer que Deus escolhe também as palavras utilizadas em cada tradução (do hebraico para o grego, do grego para o latim, do latim para outras línguas);
-  ...
Para chegar a uma conclusão vamos ver o que diz a Santa Igreja sobre isso:
As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. (...) têm Deus por autor (...). Todavia, para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria[1].
Como, porém, Deus na Sagrada Escritura falou por meio dos homens e à maneira humana, o intérprete da Sagrada Escritura, para saber o que Ele quis comunicar-nos, deve investigar com atenção o que os hagiógrafos realmente quiseram significar e que aprouve a Deus manifestar por meio das suas palavras[2].
Nada mais claro que isso. Deus é o autor? Sim, mas é Autor no tocante a Inspiração Divina em relação aos seus escritores (inspiração dada pelo Espírito Santo). Foram homens que escreveram as Sagradas Escrituras e esses homens utilizam as suas limitações e os seus conhecimentos. Eles escrevem conforme seu limitado conhecimento de Deus. Esse conhecimento vai aumentando conforme avança a história da salvação.
Por isso são esse homens também autores no referente ao estilo literário, os termos, as palavras, etc.
Por isso quem interpreta a Sagrada Escritura deve atentar não só para a letra escrita. Para saber o que quis Deus comunicar deve atentar aos “gêneros literários”. Por não ser claro o sentido das escrituras, cabe a Igreja esta interpretação.
Dado isto, vamos as dúvidas propriamente ditas...
Sobre o sacrifício de Isaac, temos:

O Senhor disse a Abrão: “Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te mostrar”. (Gn 12, 1)
O Senhor apareceu a Abrão e disse-lhe: “Darei esta terra à tua posteridade.” Abrão edificou um altar ao Senhor, que lhe tinha aparecido”. (Gn 12, 7)
Depois disso, Deus provou Abraão, e disse-lhe: “Abraão!” “Eis-me aqui”, respondeu ele”. (Gn 22, 1)
O anjo do Senhor, porém, gritou-lhe do céu: “Abraão! Abraão!” “Eis-me aqui!”””. (Gn 22, 11)

Em uma primeira leitura vemos Deus testando a fé de Abraão com duas ações diferentes:
1.      Dando a Abraão um filho com sua mulher estéril;
2.      Pedindo que Abraão sacrifique este filho, em nome Dele;
Ocorre que a leitura correta, com a possibilidade que temos (dada a bíblia que usamos, no caso a versão AVE-MARIA) é esta:
Gn 12, 1 – aqui o Senhor Iahweh[3] manda Abraão sair da terra onde vive;
Gn 12, 7 – aqui o Senhor Iahweh[4] promete uma posteridade a Abraão;
OBS: Notem que Senhor (versão AVE-MARIA) equivale a Iahweh (versão Jerusalém).
Gn 22, 1 – aqui Deus pede uma prova a Abraão;
Gn, 22, 11 – aqui o anjo do Senhor Iahweh impede o sacrifício;
OBS: notem que Deus não equivale a Iahweh (Essa referencia [Deus ≠ Iahweh] é específica aos versículos apontados, e não ocorre na Bíblia toda).
Fazendo então uma releitura, percebe-se que não é Iahweh quem pede o sacrifício.
Mas quem pede então?
Ocorre que, quando Abraão é chamado pelo Senhor (Gn 11, 1) ele é um pagão que não conhece Iahweh. Abraão não conhece esse Deus que é amor, mas conhecia as divindades cultuadas no meio do povo pagão em que vivia.
Era uma prática comum Sacrificar a Deus todas as primícias: animais, plantações e filhos também.
Aqui existem duas possibilidades:
1.      Esse Deus ser uma divindade como Moloc[5], conforme Levítico 18, 21:
“Não darás nenhum de teus filhos para ser sacrificado a Moloc; e não profanarás o nome de teu Deus. Eu sou o Senhor”.
2.      Esse Deus ser Iahweh. Aí temos que lembrar que o povo não tinha conhecimento das vontades de Deus. De fato os filhos são uma benção, de Deus, e sua não chegada indica que algo está errado (esterilidade). Quando a mulher engravida isto quer dizer que Deus abençoou o casal. Por isso, na mente deles todas os primogênitos, como todas as primícias, tem que ser dados [sacrificados] a Deus (como agradecimento pela fertilidade do casal). De fato os filhos são de Deus, mas não devem, por isso ser sacrificados, mas sim resgatadas:
Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus, como ele jurou a ti e a teus pais, e te houver dado essa terra, consagrarás ao Senhor todo primogênito; mesmo os primogênitos de teus animais, os machos, serão do Senhor. Entretanto, resgatarás com um cordeiro todo primogênito do jumento; do contrário, quebrar-lhe-ás a nuca. Todo primogênito dos homens entre teus filhos, resgatá-lo-ás igualmente”.
(Exodo 13, 11-13)
Aqui vemos que os primogênitos dos animais são consagrados a Deus (seja por sacrifícios[6], seja entregando-os aos sacerdotes[7]), mas os jumentos não (pois são animais impuros[8]), nem os filhos (por que Deus salva os seus filhos,como fez com Isaac, filho de Abraão).
Na prática Abraão se vê em uma situação inusitadamente difícil. Tem que, de acordo com a prática do povo, sacrificar um filho que ama e uma promessa cumprida por Deus.
Só que Deus não quer o sacrifício dos filhos e Abraão percebe isso, seja de forma implícita, seja de forma explicita.
Como disse a Dei verbum, é preciso entender a mensagem escrita nas escrituras.
Quanto às pragas egípcias...
A seqüência de pragas é:
1.      A água transformada em sangue (Ex 7, 14-25);
2.      As rãs (Ex 8, 1-15[7, 26ss; 8, 1-11]);
3.      Os mosquitos (Ex 8, 16-19[12-15]);
4.      As moscas (Ex 8, 20-32[16-28]);
5.      A peste dos animais (Ex 9, 1-7);
6.      As úlceras (Ex 9, 8-12);
7.      A chuva de pedras (Ex 9, 13-35);
8.      Os gafanhotos (Ex 10, 1-20);
9.      As trevas (Ex 10, 21-29);
10.  A morte dos primogênitos (Ex 11, 1-8; 12, 29-34);
Novamente, temos que entender o que se passa por trás da escrita.
Temos um texto que tem a intenção de mostrar a grandiosidade de Iahweh não só para os israelitas como também frente aos deuses egípcios.
Em síntese, vez que explanar sobre cada uma das pragas necessitaria um trabalho muito longo, vou dividir as “pragas” conforme suas intenções[9].
Inicialmente não temos 10 pragas, mas sim 9 sinais ou prodígios e uma praga. Os prodígios/sinais (Ex 4, 1-9.30; 7, 9) tem a intenção de dar crédito a Moisés junto ao povo e ao Faraó. As “pragas” são destinadas a fazerem o Faraó reconhecer o poder de Iahweh.
Dividindo em blocos temos:
1.      No I e II sinais os magos repetem os prodígios com suas feitiçarias (Ex 7, 20.22; 8, 5-7[2-3]), o que invalida o valor da prova;
2.      No III sinal os magos são incapazes (Ex 8, 17-18[13-14]), e o prodígio de Moisés mostra-se revelador;
3.      No IV e V sinais os magos nada fazem;
4.      No VI sinal os magos são atingidos (Ex 9, 10-11) e retiram-se do resto da narrativa. A partir daqui só teremos como personagens: Moisés, Aarão e o Faraó;
5.      No VII sinal temos a chuva de pedras ou granizo. Uma tempestade de chuva e granizo, com raios e trovões não é fenômeno meteorológico natural no Egito. Esta tempestade é uma teofania (sinal de Deus). A tempestade diz, sem dúvidas, que Iahweh domina no território egípcio;
6.      A partir daqui, no VIII sinal, o Faraó vai cedendo aos poucos. O décimo acontecimento é definitivo: Uma Praga, que é um golpe. Não se trata de um acontecimento natural;
Deve-se, de fato, reter apenas a intenção da narrativa que é fazer brilhar aos olhos dos israelitas e do Faraó a onipotência de Iahweh. O texto, que aos nossos olhos pode mostra um Deus cruel que fere o Egito e ainda, por vezes, endurece o coração do Faraó (Ex 4, 21), para que este não deixe o povo sair (observem a contradição), aos olhos dos israelitas mostra um Deus que além de controlar a natureza em favor do seu povo, ainda é mais poderoso do que os deuses ou o Faraó que os aprisiona.
O livro do Êxodo é uma grande saga explicada no próprio nome que tem no termo grego “eis+hodós” o significado de aprendizagem no caminho[10]. Tendo os fenômenos ou as "pragas" da saída do Egito ocorrido conforme descrito ou de forma diferente, o autor deseja chamar a atenção para a conversão do povo. O sentido do povo esta no Deus que inicialmente eles não conhecem (Ex 4, 29-31) mas que ao conhecerem e lhe prestarem culto (a Páscoa judaica de Ex 12, 1-14) conseguem finalmente sair do Egito. Esta é a teologia por trás do Êxodo.
Deus não mudou. O entendimento dele sim, assim como nós o conhecemos aos poucos, também os hebreus foram descobrindo como Ele era por etapas graduais.
Deus sempre foi e é amor.


[1] Dei Verbum nº 11;
[2] Dei Verbum nº 12;
[3] Termo específico na Bíblia de Jerusalém;
[4] Termo específico na Bíblia de Jerusalém;
[5] Ou outra divindade;
[6] Deuteronômio 15, 19-20;
[7] Números 18, 15-18;
[8] Êxodo 34, 20 c/c Números 18, 15;
[9] Seguirei, resumidamente, as fórmulas apresentadas nas notas das Bíblias PEREGRINO e JERUSALÉM;
[10] Mazzarolo, Isidoro. A Bíblia em suas mãos. 7ª edição, p. 26;

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O QUE TERIA FEITO JESUS NOS 3 DIAS ENTRE SUA MORTE E SUA RESSURREIÇÃO?

Esta foi a primeira dúvida que surgiu na nossa caixinha de dúvidas. Não irei transcrever minha resposta, mas sim encorpá-la. Provavelmente eu faça isso com as outras questões que já surgiram e que ainda surgirão.

Primeiramente vale esclarecer onde Cristo esteve...
"Mas Deus o ressuscitou, rompendo os grilhões da morte, porque não era possível que ela o retivesse em seu poder"
(At 2,24).
Da morte, aqui, é traduzida como Hades[1]. Isto se dá pelo paralelo feito vos versículos 27 e 31. De fato o Hades [no grego] é a região dos mortos. Seu correspondente [no hebraico] é o Xeol [sheol].
Cristo desce até a morada dos mortos. Logo Cristo não desce até o inferno[2], mas sim aos Infernos. Paulo nos diz na carta aos efésios[3]Que significa “subiu”, senão que ele [Cristo] também desceu às profundezas da Terra? O que desceu é também o que subiu acima de todos os céus,(...)” (Ef 4, 9-10).
Esta morada dos mortos é o Seio de Abraão.
Novamente aviso que não estamos falando de lugares físicos, mas é impossível não fazermos paralelos com o mundo que vivemos.
Primeiramente, o termo “Seio de Abraão” designa proximidade com os patriarcas como vemos nestes 2 exemplos:
Josué, filho de Nun, servo do Senhor, morreu com a idade de cento e dez anos.(...)Toda aquela geração se foi também unir a seus pais, e sucedeu-lhe outra que não conhecia o Senhor, nem o que ele tinha feito em favor de Israel.”
(Juízes 2, 8.10)
Aquela geração se foi unir a seus pais [os patriarcas] juntamente com Josué que já havia morrido.
“Quando eu [Jacó] me tiver deitado com meus pais[morrido], levar-me-ás para fora do Egito e me enterrarás junto deles em seu túmulo.” José respondeu: “Farei como dizes.”(...)”
(Genesis 15, 15)
Novamente vemos este paralelo pois Jacó equipara morrer a deitar com os pais [patriarcas].
Esta imagem do estar com os Pais, ou no Seio de Abraão indica a proximidade de Abraão com o Messias mostrado por Mateus:
“Por isso, eu vos declaro que multidões virão do Oriente e do Ocidente e se assentarão no Reino dos céus com Abraão, Isaac e Jacó(...)”.
(Mateus 8, 11ss)
Notem que este lugar não é o paraíso para o qual aponta Jesus no diálogo com o Ladrão na cruz (Lc 23, 43). Tanto o homem rico quanto o pobre Lázaro estariam em um mesmo “lugar”, porém separados por um grande abismo (Lc 16, 26), que simboliza, para eleitos e condenados, a impossibilidade de modificar o próprio destino.

Quem Cristo encontra lá?
De fato, como mostrei, na mansão dos mortos estão todos os que morreram, sejam justos, sejam maus (Salmo 6, 6 c/c 89[88], 49). Todos, que morreram na condição do pecado original [Resquício de adão], estão lá, privados da visão de Deus.
Não há possibilidade de comunhão com Deus para a geração de Adão. Por isso, mesmo nenhum dos santos que haviam morrido (Ex. Moisés, Abraão, Noé, David etc.) podiam ter entrado no céu, porque o pecado de Adão ainda não fora remido. Os justos esperavam pela redenção num lugar onde não sofriam nem gozavam ainda da visão de Deus.

O que Cristo faz lá?
Lá ele liberta estes justos da privação da presença de Deus e prega aos incrédulos.
“O Cristo morto, em sua alma unida à sua pessoa divina, desceu à Morada dos Mortos. Abriu as portas do Céu aos justos que o haviam precedido”[4].
De fato “foi o Evangelho pregado também aos mortos” (I Pd 4, 6), e, entre os mortos, também aos injustos (I Pd 3, 18-19).
Logo, Cristo vai à mansão dos mortos para que, literalmente, “os mortos ouçam a voz do Filho de Deus; e que ouvindo vivam” (Jo 5, 25). Apesar de ser esta passagem colocada em um contexto não de mortos físicos, mas de mortos espirituais, podemos traçar um paralelo com Jo 11, 25-26.43-44:
Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisto? (...)exclamou em alta voz: Lázaro, vem para fora! E o morto saiu(...).

O catecismo no seu número 635 nos remeta a Liturgia das horas do Grande Sábado, o Sábado Santo, véspera da Páscoa. Ele diz:
Um grande silêncio reina hoje na terra, um grande silêncio e uma grande solidão. Um grande silêncio porque o Rei dorme. A terra tremeu e acalmou-se porque Deus adormeceu na carne e foi acordar os que dormiam desde séculos... Ele vai procurar Adão, nosso primeiro Pai, a ovelha perdida. Quer ir visitar todos os que se assentaram nas trevas e à sombra da morte. Vai libertar de suas dores aqueles dos quais é filho e para os quais é Deus: Adão acorrentado e Eva com ele cativa. "Eu sou teu Deus, e por causa de ti me tornei teu filho. Levanta-te, tu que dormes, pois não te criei para que fiques prisioneiro do Inferno: Levanta-te dentre os mortos, eu sou a Vida dos mortos.[5]"

Quando isto ocorre (em qual dos 3 dias)?
Temos que perceber que fora da nossa vida corporal não há tempo cronológico.
Logo Cristo morre estendendo sua obra redentora aos outrora falecidos.
Mateus relata no Evangelho que, logo após a morte de Jesus “Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram” (cf. Mt 27, 50.52).
Cristo, então, resgata os mortos e, abrindo as portas do céu, nos entroniza no Paraíso.
“Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade”[6].


[1] Tradução da Bíblia de Jerusalém;
[2] Fato que nem poderia ocorrer, vide a palestra “céu, inferno e purgatório”;
[3] Tradução da Bíblia de Jerusalém;
[4] Catecismo da Igreja Católica 637;
[5] Uma antiga homilia, de autor grego desconhecido;
[6] Ibid.;

Dúvidas do curso de catequese

Como sou muito desligado, não avisei que a minha comunidade, a qual também nem disse que faço parte ou mesmo qual é, está ministrando um curso de catequese na paróquia (Divino Salvador, Piedade/RJ) aos sábados de 14h30min as 17h00min.
Bem, no curso nós temos uma caixinha de dúvidas, as quais respondemos sempre no seguinte sábado de curso.
Começarei a postar as respostas das dúvidas do nosso curso de catequese aqui no blog, de forma a ficar mais explicado.
O material do curso está no blog da minha comunidade no endereço
Informações sobre o curso é lá também.
Abraço a todos e espero muitas dúvidas...

terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Grande diferença entre crer e ser fiel.

“Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus. Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus.”
(Mateus 10, 32-33)

   A Palavra de Deus nunca soa igual aqueles que a lêem com o coração aberto e inspirados pelo Espírito Santo. Não sei quantas vezes já li e reli Mateus 10, principalmente nos versículos 32 e 33 e seus equivalentes (Marcos 3, 28-30 e Lucas 12, 8-12). Porém hoje o Espírito Santo me fez esquecer o foco sobre os pecados contra o Espírito para reparar sobre um detalhe que sempre passou-me desapercebido: que Jesus nos fala a grande diferença entre crer e ser fiel.

Muitas vezes usamos tanto uma palavra que fazemos com que ela perca seu real sentido. Pode parecer estranho, mas muita gente perdeu o sentido de o que significa ser crente. Há muitos que dizem ser crentes mas não são. E não falo só dos crente “de boca” (Mateus 7, 21), mas também de pessoas que são, ou buscam ardentemente, ser santas e irrepreensíveis diante dos olhos de Deus (Efésios 1, 4).

Como assim?

Vamos começar fazendo uma análise de Mateus 10, 32.

“Portanto, quem der testemunho de mim diante dos homens, também eu darei testemunho dele diante de meu Pai que está nos céus”.

A palavra de ordem deste versículo é DAR TESTEMUNHO. Trata-se de uma promessa que Jesus nos faz: aquele que o testemunhar será testemunhado.

Entre vários significados da palavra testemunhar, estão: “atestar; confirmar; declarar ter visto, ouvido ou conhecido;”.

Logo testemunhar é sinônimo de CRER. Creia no Senhor, em meio aos homens, e o Filho do Homem o terá como verdadeiro diante dos anjos de Deus.

Poderia dar inúmeros exemplos de pessoas que creram em Deus e em Jesus, porém ficarei com uma: o jovem rico.

Pode parecer estranho, mas o jovem rico, ao contrário do que vários pensam, era um crente que poderia ser visto como exemplo para muitos. Vejamos dois aspectos que o capacitariam para ser um exemplo de conduta a ser seguido:

1º - ele reconhecia a pessoa de Jesus.

Tendo ele saído para se pôr a caminho, veio alguém correndo e, dobrando os joelhos diante dele, suplicou-lhe: "Bom Mestre, que farei para alcançara vida eterna?"(Marcos 10, 17).

O jovem rico só dobra os joelhos porque reconhece em Jesus a autoridade que vem de Deus. E ô fez de dia, para todos verem, sem se preocupar com o que muitos falariam. Uma coragem que Nicodemos não teve, pois foi ter com Jesus de noite, as escondidas (João 3, 1-2).

2º - ele reconhecia Deus e os mandamentos.

Conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não furtes; não digas falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe." .Ele respondeu-lhe: "Mestre, tudo isto tenho observado desde a minha mocidade." (Marcos 10, 19-20)

Uma grande prova de amor a Deus é guardar seus mandamentos, de tal forma a fazer-se digno de misericórdia até a milésima geração (Êxodo 20, 6). E o jovem rico seguia os mandamentos desde sua mocidade.

Logo, o jovem rico era sim um crente. E um bom crente, reconhecedor de Cristo e observador da lei. Ele não seguiria os mandamentos se não acreditasse em Deus. Logo estava salvo, pois a palavra da verdade diz que Quem crer e for batizado será salvo (Marcos 16, 16). Também Deus nos fala que aquele que crer não será confundido (Isaías 28, 16).

Então não lhe faltava nada?

Jesus fixou nele o olhar, amou-o e disse-lhe: "Uma só coisa te falta; vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me. Ele entristeceu-se com estas palavras e foi-se todo abatido, porque possuía muitos bens. (Marcos 10, 21-22)

Amados, crer só não basta. Crer é o primeiro passo da longa caminhada que temos que fazer. Quantos crentes existem que pensam que estão salvos só porque crêem em Deus. Só porque crêem em Jesus. Será que você não está nesta acomodação? Será que você também não se tornou um crente frio? Alguém que leva este titulo e se orgulha dele, como se isto fosse o necessário para ser salvo?

O jovem rico estava disposto a crer em Jesus como seu Salvador, mas não estava disposto ser fiel a Jesus como seu Senhor, pois tinha como seu senhor os seus muitos bens (Marcos 10, 22), os quais não conseguia largar (Marcos 10, 24). Mas não há como servir esses dois senhores (Mateus 6, 24).

A figura de Jesus Salvador e de Jesus Senhor é a mesma porque ele é Salvador (Lucas 2, 11a) e Senhor (Lucas 2, 11b), e não pode ser separado, pois esta é a sua essência.

Quer dizer que o crente não se salva?

Só sendo crente, não! E isso é muito sério. Estamos criando em nós, em nossas comunidades, famílias, igrejas, acomodados fadados a condenação por não lutarem (Mateus 11, 12). É preciso atentar a uma verdade muito dura, mas real: SER CRENTE NÃO É GARANTIA DE SALVAÇÃO!

Mentira?

Vejamos o que a Palavra de Deus nos diz.

“porque a vós vos é dado não somente crer em Cristo, mas ainda por ele sofrer”. (Filipenses 1, 29)

Paulo escreve a comunidade que fundou em Filipos (Atos 16, 11-40) enquanto está preso, e, já tendo sofrido muito pelo anuncio do evangelho, lhes adverte, aproveitando da preocupação que os Filipenses tinham com ele (2 Coríntios 1, 8-10) se dando de exemplo, que não basta crer. Isso é cômodo. É preciso sofrer, e sofrer até o fim.

O Senhor revela ao profeta Daniel até onde deve ser essa medida de sofrimento dizendo “Quanto a ti, vai até o fim. Tu repousarás e te levantarás para (receber) tua parte de herança, no fim dos tempos” (Daniel 12, 13) Aqui nós temos dias de muita tribulação (Dn 12, 1), onde nem todos se salvarão (Dn 12, 2). Mas felizes os que conseguirem ser fiéis até o fim (Dn 12, 11-12). Esses se farão dignos da vida eterna no fim dos tempos.

Jesus nos diz que o Reino dos céus é dos violentos (Mateus 11, 12) não porque os que pegam em armas e praticam a violência serão salvos (Mateus 26, 52), mas porque estamos em uma verdadeira guerra contra o demônio (Efésios 6, 12), onde a tentação vem de todos os lados, e poucos acertam a salvação (São Mateus 7, 14), e se faz necessário lutar não só pela nossa redenção, mas pela redenção dos outros (1 Timóteo 1, 18-20; 6, 11-14).  Abandone, o mais rápido possível, o pensamento de que ser crente lhe vale de algo. Deus não precisa disso pra ser Deus. Deus não quer crentes, esse título, para Ele, não é nada. João Batista dizia Não digais dentro de vós: Nós temos a Abraão por pai! Pois eu vos digo: Deus é poderoso para suscitar destas pedras filhos a Abraão. (Mateus 3, 9).

Tiago dá uma dura lição quando diz “Crês que há um só Deus. Fazes bem. Também os demônios crêem e tremem. Queres ver, ó homem vão, como a fé sem obras é estéril?” (Tiago 2, 19-20).

Percebe que os demônios também são crentes? Que eles também crêem que há um só Deus? A pergunta que se deve fazer é: será que sou só “crente”? Será que minha fé é estéril? Será que ela é apta a dar frutos (Números 13, 20)?

Um dos motivos de muitos crentes não darem frutos é por serem crentes ao seu modo. É interessante como o crente tem o habito de ler a bíblia retirando aquilo que lhe convém. Isso porque ele crê, mas até onde ele quer, criando as suas verdades. Ele lê a bíblia assim:

Respondeu-lhe Jesus. "Em verdade vos digo: ninguém há que tenha deixado casa ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras por causa de mim e por causa do Evangelho que não receba, já neste século, cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições e no século vindouro a vida eterna. (Marcos 10, 29-30)

Seria engraçado se não fosse trágico. O crente esquece que terá perseguições, esquece que Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim (Mateus 10, 38).

Fico de cabelos em pé quando ouço alguém dizer que o nascido de Deus vence (1 João 5, 4), tornando-se filho e herdeiro do Pai, através do Senhor Jesus (Romanos 8, 17), herdeiros de uma vida em abundância (João 10, 10) e que por isso Deus tem que me agraciar com saúde, prosperidade financeira e tranqüilidade. São pessoas que pensam que conhecem Deus, mas, na verdade, criaram seus próprios deuses. E se enganam e enganam a muitos, mas o Senhor diz Melhor lhe seria que se lhe atasse em volta do pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado ao mar, do que levar para o mal a um só destes pequeninos. ( Lucas 17, 2).

Se ser crente não basta, o que falta?

Ser fiel.

Aquele, porém, que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai que está nos céus. ( Mateus 10, 33)

Negar Cristo não quer dizer não conhecê-lo, mas não ser fiel a Ele diante dos homens (2 Timóteo 2, 13)

O povo fiel será elevado acima de todas as nações (Deuteronômio 28,1), e se tornará cooperador da obra de Deus (1 Coríntios 3, 9). Porém essa fidelidade passa pelas ações, orações e sofrimentos. Deve se ter consciência que a nossa redenção vem, antes de tudo, pela Cruz de Cristo (Lucas 9,23). E se somos co-herdeiros de Cristo (Romanos 8, 14-17), ô somos no sofrimento (1 Timóteo 4, 10).

É certo que aquele que é fiel ao Senhor também tem que estar disposto a servir o próximo como se servisse ao próprio Cristo, porque, em verdade, é isso que acontece (Mateus 25, 34-40).

O sofrimento e o serviço são marcas do Cristo (João 15, 20) que nós somos chamados a ser. Não é blasfêmia querer se comparar a Cristo, mas sim uma meta a ser atingida (1 Coríntios 11, 1).

Você é crente ou é Fiel?

Se você for fértil no Espírito, com certeza será mais que um crente, mas um fiel a Deus (Gálatas 5, 22), e assim receberá o justo premio aqui que é cem vezes mais casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, com perseguições, e o premio maior que é a vida eterna, um tesouro no céu (Marcos 10, 21).

Se até hoje você não foi Fiel, e se assusta com toda esta responsabilidade, ore e peça a Deus, pela unção do Espírito Santo, um coração como o de Cristo. Não se preocupe por ainda não conseguir, mas preocupe-se se ainda não quiser tentar.

Ainda há tempo, pois sua infidelidade não destrói a fidelidade de Deus (Romanos 3, 3), Deus ainda confia em você irmão.

Tenho certeza que, todos os nossos pecados serão como o adubo, que é nada mais que esterco, aquilo que é degradante, sujo, jogado fora. Porém, é desse adubo que a planta retira muito do que a fertiliza, que a faz crescer. Deus é tão bom que faz isso conosco. Transforma o nosso adubo em árvores férteis que dão muitos frutos “cem por um, sessenta por um, trinta por um” (Mateus 13, 8), transforma o nosso pecado em graça, pois “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Romanos 5, 20).

Agora a escolha é sua.


Mostrai-me, Senhor, o caminho de vossas leis, para que eu nele permaneça com fidelidade.
(Salmos 118, 33)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Liturgia Diária QUINTA, 9 de setembro

Evangelho (Lucas 6,27-38)

 “Naquele tempo, falou Jesus aos seus discípulos: 27“A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, 28bendizei os que vos amaldiçoam, e rezai por aqueles que vos caluniam. 29Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra. Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica.
30Dá a quem te pedir e, se alguém tirar o que é teu, não peças que o devolva. 31O que vós desejais que os outros vos façam, fazei-o também vós a eles. 32Se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Até os pecadores amam aqueles que os amam. 33E se fazeis o bem somente aos que vos fazem os bem, que recompensa tereis? Até os pecadores fazem assim. 34E se emprestais somente àqueles de quem esperais receber, que recompensa tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para receber de volta a mesma quantia. 35Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai sem esperar coisa alguma em troca. Então, a vossa recompensa será grande, e sereis filhos do Altíssimo, porque Deus é bondoso também para com os ingratos e os maus.
36Sede misericordiosos, como também o vosso Pai é misericordioso. 37Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. 38Dai e vos será dado. Uma boa medida, calcada, sacudida, transbordante será posta no vosso colo; porque com a mesma medida com que medirdes os outros, vós também sereis medidos”.

Primeira leitura (1º Coríntios 8,1b-7.11-13)

Irmãos, 1bo conhecimento incha, a caridade é que constrói. 2Se alguém acha que conhece bem alguma coisa, ainda não sabe como deveria saber. 3Mas se alguém ama a Deus, ele é conhecido por Deus! 4Quanto ao comer as carnes de animais sacrificados aos ídolos, nós sabemos que um ídolo não é nada no mundo, e que Deus é um só.
5É verdade que alguns são chamados deuses, no céu ou na terra, e muita gente pensa que existem muitos deuses e muitos senhores. 6Para nós, porém, existe um só Deus, o Pai, de quem vêm todos os seres e para quem nós existimos. E, ainda, para nós, existe um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual tudo existe, e nós também existimos por ele. 7Mas nem todos têm esse conhecimento. De fato, alguns habituados, até o presente, ao culto dos ídolos, comem da carne dos sacrifícios, como se ela fosse mesmo oferecida aos ídolos. E assim, a sua consciência, que é fraca, fica manchada.
11E então, por causa do teu conhecimento, perece o fraco, o irmão pelo qual Cristo morreu. 12Pecando, assim, contra os irmãos e ferindo a consciência deles, que é fraca, é contra Cristo que pecais. 13Por isso, se um alimento é ocasião de queda para meu irmão, nunca mais comerei carne, para não escandalizar meu irmão.

Salmo (Salmos 138)

— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!

— Senhor, vós me sondais e conheceis, sabeis quando me sento ou me levanto; de longe penetrais meus pensamentos, percebeis quando me deito e quando eu ando, os meus caminhos vos são todos conhecidos.
— Fostes vós que me formastes as entranhas, e no seio de minha mãe vós me tecestes. Eu vos louvo e vos dou graças, ó Senhor, porque de modo admirável me formastes! Que prodígio e maravilha as vossas obras!
— Senhor, sondai-me, conhecei meu coração, examinai-me e provai meus pensamentos! Vede bem se não estou no mau caminho, e conduzi-me no caminho para a vida!

Mais uma vez Jesus usa de uma pedagogia muito própria. Pode-se dizer que todo o seu discurso se resume nos versículos 36 ao 38. Contudo alguns poderiam dizer que não entenderam.  Ou mesmo se esquivar, igual fazemos as vezes, dizendo que não julgam ou não condenam ninguém.

“Se amais os que vos amam, que recompensa mereceis? (...). E se fazeis bem aos que vos fazem bem, que recompensa mereceis? Pois o mesmo fazem também os pecadores”.

Mais uma vez Cristo nos alerta para uma religião da boca para fora, onde dizemos e não fazemos. Quanto a este tipo de falsidade ele já alertara:

Este povo somente me honra com os lábios; seu coração, porém, está longe de mim”. (Mateus 15, 8)

Nisto a liturgia do dia nos dirá que devemos amar. Mas não só amar os amigos, mas também os inimigos (Lucas 6, 27-28); amar não somente por interesse, mas sem esperar nada em troca(Lucas 6, 33-34). Mas como isto é difícil. Impossível talvez.

Nesta hora devemos lembrar o que Jesus nos diz: “O que é impossível aos homens é possível a Deus”. (Lucas 18, 27)

E a nossa resposta a esta nossa fraqueza nós lemos no refrão do salmo 138(139):

— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!

Deus nos sonda e sabe que somos fracos. Sabe das nossas dificuldades de segui-lo, de fazer o bem, de ler a bíblia, de orar, de dar a outra face quando recebemos uma bofetada,... DEUS SABE DASTAS COISAS. Ma também cabe a nós querer ser ajudados por este Deus.
Devemos pedir que Deus veja se não estamos no mau caminho, e se nele estivermos devemos pedir que Ele nos conduza para o caminho da vida (Salmo 138[139] 23-24). E que caminho da vida é este?

É JESUS: CAMINHO, VERDADE E VIDA (João 14, 6)

Por isso, para cada item que o Este trecho do Evangelho de Lucas nos pede, e que nós acharmos impossível seguir devemos pedir que Deus nos conduza no seu caminho e nos dê a força para fazer o bem.

Se não consigo amar meus inimigos e fazer o bem aos que me odeiam? (Lc 6, 27)
— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
Não consigo orar pelos que me amaldiçoam nem orar pelos que falam mal de mim?(Lc 6, 28)
— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!
Não consigo dar a outra face a quem me bate nem me desprender dos meus bens a quem me rouba? (Lc 6, 29-30)
— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!

A primeira leitura já começa a alertar que o conhecimento incha, isto é, só serve para se mostrar, para aparecer. É a caridade que constrói. Caridade aqui é amor ao próximo, independente de quem seja este próximo (alguém que gosta de nós ou que nos odeia).
Seguindo esta linha de raciocínio Paulo fala de algo que acontecia na comunidade de corinto (uma cidade que ficava na região da Grécia daquele tempo): o consumo das carnes que eram dadas aos ídolos.
Animais eram sacrificados aos “deuses” gregos e as sobras de suas carnes eram vendidas para consumo, e daí vinha a dúvida: poderiam essas carnes serem consumidas? Não seria isto sinal de idolatria? (1 Coríntios 8, 4)
Paulo responde que não, vez que esses “deuses” não existem. Só há um Deus e um só Senhor (1 Cor 8, 6).

Podemos comparar isto com o que ocorre nestas festinhas de “São Cosme e São Damião”. Entendam o que eu escrevi: serve como comparação, mas não é o mesmo caso, afinal doces não tem o papel na alimentação que a carne tem. Mas o exemplo serve quanto a como devemos agir.

Muitas das pessoas fazem isto [dar doces] por conta de promessas aos deuses afros. Se eu sei que estes deuses não existem não há problema em comer os doces. Mas, e aqui se aplica o que Paulo disse, se eu sei que alguém acha isto errado, para não criar um mal estar, é melhor eu não comer.
Por analogia podemos ler:

“Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode tornar impuro, porque não lhe entra no coração, mas vai ao ventre e dali segue sua lei natural? Assim ele declarava puros todos os alimentos”.
(Marcos 7, 18-19)

Mas o que isto tem haver com o evangelho? Tudo, oras.
Disse que o discurso de Jesus se resume aos versículos 36-38 do evangelho de Lucas. Aqui ele fala de misericórdia (compadecer da miséria – fraqueza – do outro), e de não julgar (se eu sei algo que o outro não sabe, ou tem um entendimento diferente, não me cabe achar superior).

Que possamos aplicar na nossa vida a medida que usamos para medir os outros, pois é com esta medida que seremos medidos (Lc 6, 38). LOGO NÓS NOS MEDIREMOS. Sendo assim:

— Conduzi-me no caminho para a vida, ó Senhor!