Antes de mais nada, é preciso dizer que o celibato de padres e freiras, bem como de todos aqueles que fazem voto de castidade perante Deus e a Igreja, não é um Dogma (matéria de fé), mas apenas uma norma disciplinar interna da Igreja. Como tal, a Igreja poderá alterar esta disposição ao longo do tempo.
De fato, por não se tratar de um Dogma, não há obrigação para que os católicos concordem incondicionalmente com tal regra. No entanto, devido a tantas confusões que o público faz quando se trata do assunto, é interessante saber por que a Igreja optou pelo celibato de seus religiosos.
De fato o celibato auxilia o sacerdote que, não tendo todas as obrigações de chefe de família, pode dedicar-se plenamente a sua missão de evangelizador. Vemos aqui um casamento com a Igreja.
É provável que nem todos os discípulos eram celibatários no momento de seus chamados. São Pedro já havia sido/era casado, mas a maioria era celibatária (até por serem Jovens quando chamados por Cristo). O próprio Jesus Cristo se manteve celibatário.
Com o tempo, os bispos e presbíteros da Igreja vão percebendo que esta condição mais próxima de Cristo era também a mais eficaz para o trabalho de evangelização. De fato, um pai de família não tem o mesmo tempo para cuidar da messe que um solteiro. Sem falar em outras questões, como a necessidade de se deslocar de uma região para outra.
Neste sentido, é que em 303 d.C. o Concílio de Elvira (Espanha) recomenda o celibato como norma para os religiosos. É fato que o Concílio apenas foi de encontro a uma realidade que já se fazia presente na Igreja.
Da mesma forma que várias instituições têm suas normas internas, a Igreja também as tem, com todo o dever e legitimidade para tanto. Ninguém é obrigado a ser padre, freira ou monge, mas caso decida por esta bela opção de vida, sabe das responsabilidades que está para assumir.
Haveria ideal maior do que procurar servir plenamente a Cristo?
MAS O QUE A BÍBLIA FALA SOBRE O CELIBATO DOS SACERDOTES?
De fato seria estranho conjugar a obrigação do celibato com a ordem dada pelo próprio Deus em Gn 1, 28, qual seja “Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a”. Afinal, o celibato vai contra a palavra de Deus?
De fato o celibato NUNCA foi contra a palavra de Deus, ao contrário homens como São Paulo, João Batista e o próprio Cristo seriam contra a palavra de Deus. A ordem de Gn 1, 28 não pode ser entendida como uma regra individual, mas um mandamento para a humanidade em geral (dado todo o contexto histórico deste escrito que se refere ao povo ainda escravo na Babilônia).
Logo o celibato não atesta ser o sexo algo condenável. Nem poderia vez que o sexo faz parte do Matrimônio, Sacramento da Igreja, exercendo a função de complementação entre o homem e a mulher, bem como a geração da vida. Funções, aliás, bem mais nobres do que outras que a sociedade moderna elegeu como justificativas das libertinagens a que hoje assistimos.
Então como justificar, usando apenas a Bíblia, que o celibato sacerdotal tem raiz nos Evangelhos?
Muito simples. Deve-se começar analisando, pela bíblia, o que é superior: o matrimônio ou o estado de virgindade consagrada?
Esta resposta Cristo já nos deu em Mt 19, 29, quando nos diz que “E todo aquele que por minha causa deixar irmãos, irmãs, pai, mãe, mulher, filhos, terras ou casa receberá o cêntuplo e possuirá a vida eterna.”.
É cristalino no texto que Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, aconselha alguns a deixarem tudo, incluindo a mulher, para servi-lo. Este texto comprova o valor e a validação do celibato clerical. Mas nós podemos, e devemos, ir além.
O mesmo Cristo Jesus nos disse:
"Nem todos são capazes de compreender o sentido desta palavra, mas somente aqueles a quem foi dado. Porque há eunucos que o são desde o ventre de suas mães, há eunucos tornados tais pelas mãos dos homens e há eunucos que a si mesmos se fizeram eunucos por amor do Reino dos céus. Quem puder compreender, compreenda" (Mt. 19, 11-12).
Cristo não pediu uma mutilação física, como também não incentivou ninguém a cegar-se para entrar no Reino de Deus (Mt 5, 29). Ao falar de eunucos Cristo dizia dos que, por amor ao Reino, renunciavam a vida marital. Tendo o próprio Cristo, Sacerdote por excelência, não se casado, faz bem os Sacerdotes o imitarem.
São Paulo também fala que o casamento era bom, mas afirma que permanecer como ele [em celibato] era melhor:
“Aos solteiros e às viúvas, digo que lhes é bom se permanecerem assim, como eu. Mas, se não podem guardar a continência, casem-se. É melhor casar do que abrasar-se” (I Cor 7, 8-9).
Vamos pela lógica. São Paulo diz que é bom permanecer solteiro os que estão solteiros. Mas se estes não conseguem viver o celibato que se casem. São Paulo fala de uma condição de vida (celibatário) que não deveria mudar, tanto que sua conclusão é: “É melhor casar do que abrasar-se”. Ora, se o celibato não fosse uma condição perpétua, não precisariam abrasar-se os celibatários, bastaria passar desta condição [celibatário] para aquela [casado], sem nenhum problema, vez que o casamento é bom.
É a luz deste trecho da carta aos coríntios que entendemos outros escritos de São Paulo:
“Não sou eu livre? Não sou apóstolo? Não vi Jesus nosso Senhor? Não sois vós minha obra no Senhor? Se para outros não sou apóstolo, ao menos para vós o sou, porque vós sois no Senhor o selo do meu apostolado. Esta é a minha defesa contra os que me denigrem. Não temos nós porventura o direito de comer e beber? Acaso não temos nós direito de deixar que nos acompanhe uma esposa cristã, a exemplo dos outros apóstolos e dos irmãos do Senhor e de Cefas?” (I Cor 9, 1-5)
O que São Paulo quer dizer com “levar uma esposa cristã”? Ora, São Paulo se refere a uma irmã como mulher[1], ou uma celibatária. Nunca poderia ser uma esposa sua [de São Paulo], pois seria dizer que era, a mulher, sua amante, vez que ele se declarara solteiro pouco antes. O próprio direito de comer e de beber que ele invoca, é às custas da comunidade com doações, vez que na seqüência, no versículo 6 ele diz “Ou só eu e Barnabé não temos direito de deixar o trabalho?”. Novamente a lógica nos faz refletir: como Eles [São Paulo e Barnabé] poderiam trabalhar na evangelização sem a assistência da comunidade como apoio? Morreriam de fome não é? Logo São Paulo clama o direito de ter auxílio da comunidade e de mulheres que façam os afazeres.
Interessante lembrar aqui a cura da sogra de São Pedro. Esta quando curada põe-se a servi-los (Mc 1, 29-31). Novamente o raciocínio lógico nos questiona: se São Pedro realmente era casado, porque sua sogra, e não sua mulher, põe-se a servi-los? De fato São Pedro, provavelmente, já não tinha mulher.
E OS BISPOS? PODEM CASAR-SE?
Contudo, ainda fica um questionamento: por que São Paulo diz que os bispos devem ser casados?
Na carta a Timóteo São Paulo diz:
“Eis uma coisa certa: quem aspira ao episcopado, saiba que está desejando uma função sublime. Porque o bispo tem o dever de ser irrepreensível, esposo de uma única mulher, sóbrio, prudente, regrado no seu proceder, hospitaleiro, capaz de ensinar. Não deve ser dado a bebidas, nem violento, mas condescendente, pacífico, desinteressado; deve saber governar bem a sua casa, educar os seus filhos na obediência e na castidade. Pois quem não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus? Não pode ser um recém-convertido, para não acontecer que, ofuscado pela vaidade, venha a cair na mesma condenação que o demônio. Importa, outrossim, que goze de boa consideração por parte dos de fora, para que não se exponha ao desprezo e caia assim nas ciladas diabólica.” (I Tm 3, 1-7).
Em carta a Tito, São Paulo diz:
“Eu te deixei em Creta para acabares de organizar tudo e estabeleceres anciãos em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei. (Devem ser escolhidos entre) quem seja irrepreensível, marido de uma mulher, tenha filhos fiéis e não acusados de má conduta ou insubordinação. Porquanto é mister que o bispo seja irrepreensível, como administrador que é posto por Deus. Não arrogante, nem colérico, nem intemperante, nem violento, nem cobiçoso. Ao contrário, seja hospitaleiro, amigo do bem, prudente, justo, piedoso, continente, firmemente apegado à doutrina da fé tal como foi ensinada, para poder exortar segundo a sã doutrina e rebater os que a contradizem” (Tt 1, 5-9).
E agora? O que quer dizer São Paulo?
A única coisa que ele quer dizer é que o bispo deve ter uma conduta irrepreensível, para que além de ensinar corretamente a doutrina de Cristo, possa servir de exemplo aos fiéis.
Devemos nos lembrar que no início do Cristianismo muitos pagãos se convertiam, e entre os mais velhos deles se escolhiam os Bispos.
São Paulo diz que os bispos devem se casar?
Reposta: Não. O que São Paulo diz e que, se casado, que seja apenas uma vez.
São Paulo diz que deve o Bispo ter uma família e uma casa?
Resposta: Também não. O que o Apóstolo diz então é que aqueles que forem casados, e que tiverem uma casa, sejam escolhidos levando em consideração a sabedoria com que governam suas casas, “Pois quem não sabe governar a sua própria casa, como terá cuidado da Igreja de Deus?”
Muito coerente a atitude de São Paulo, vez que normalmente os candidatos ao episcopado já eram casados antes mesmo de serem Cristãos. Não podemos esquecer que o casamento era, e ainda é, vocação natural para os Judeus na antiga aliança, para que, através do casamento e da geração da prole, tivessem parentesco com o Messias. Aqueles que não se casassem estariam explicitamente mostrando que não queriam ser parentes do Salvador prometido, o que seria um escândalo.
Não seria coerente que São Paulo advertisse que os candidatos ao episcopado tivessem se casado várias vezes (poderia acontecer. Lembre-se da discussão de Jesus a cerca da validade do divórcio em Mt 19, 3-9), e fossem péssimos administradores da sua casa.
Fontes:
Rocha, Luciano - A razão de nossa fé;
Site Veritatis Splendor - http://www.veritatis.com.br/;
Site Montfort - http://www.montfort.org.br/;